Uma tarde na praia
Ele estava lá, cheio daquelas coisas que se costumava ver nos últimos dias. Um pouco cansado e reclamando como sempre. Não sabiam mais o que fazer com ele. Alguém teve a ideia de tentar mudá-lo de posição, levá-lo para mais perto da água. Todos que estavam ali sabiam que ele precisava de um bom banho. De repente, soprou um vento mais forte que levou para longe os chapéus e os guarda-sóis fincados na areia, as crianças se divertiam com isso e tentavam sair voando com eles.
Estavam tranquilos demais para pensar numa virada do tempo, pois quando chegaram o sol brilhava forte. Ninguém poderia ou gostaria de sugerir que a tarde traria consigo uma forte chuva, apesar de isso ser tão comum nos fins de tarde daquela época do ano. Mas o plano de dar um banho no coitado continuava mesmo com as ameaças do tempo.
Esperneando para todos os lados, ele se agarrava às cadeiras de praia que pouco poderiam fazer por ele naquela situação. Primeiro tentaram o convencer, depois, já sem paciência, resolveram usar a força física necessária. Mas o homem dava trabalho e lutava bravamente. Quem não estava participando da empreitada se perguntava porque ele ainda não tinha entrado na água. Poderia ser medo ou simplesmente a água fria. Para essas objeções, as crianças eram as primeiras a encorajá-lo, não havia tempo ruim para elas, tudo estava sempre muito agradável.
Deixavam um rastro na areia enquanto arrastavam o pobre homem para as ondas em meio a gritos de algazarra. A chuva parecia estar mais próxima e outros frequentadores juntavam suas coisas para deixarem a praia. Quando viu que não tinha mais forças para lutar, aceitou seu destino, mas aos berros, calados pela água. Se levantou, seu calção largo ameaçava cair, ajeitou-o no meio de sua barriga avantajada e por alguns instantes respirou ofegante.
Recuperou-se e, ao invés de sair da água, se pôs a brincar com as ondas que arrebentavam na praia. As crianças brincavam com ele. Em meio a tanta alegria, não perceberam a chuva que os ameaçava tomando outro rumo, como se tivesse desistido de atrapalhar a tarde feliz daquele homem que, pela primeira vez, sentia o gosto salgado do mar.
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