Se tudo der errado, eu continuo sendo jornalista
- Jordino
- há 2 dias
- 2 min de leitura
Atualizado: há 1 dia

Se tudo der errado eu continuo sendo jornalista
Em 2014, quando eu cursava o segundo ano de jornalismo, minha irmã apareceu em casa com uma prensa térmica e uma impressora sublimática, frutos de uma rescisão trabalhista. “Vamos fazer camisetas”, disse ela. Minha mãe, excelente costureira, confeccionava, minha mana, com sua habilidade comercial, vendia. Eu, capengando pelo design, criava as estampas. Pelejamos que é uma barbaridade para dominar o processo de sublimação, mas quando aprendi, uma das primeiras estampas que fiz foi em homenagem ao meu curso. “Se tudo der errado, eu viro jornalista”, dizia a estampa. E desfilei por um bom tempo com aquela camiseta.
2025, por enquanto, está dentro da rota e razoavelmente saindo como planejado. É justamente por isso que preciso repensá-lo. A começar pelo fato de que é urgente para mim consumir menos informação. Algo praticamente impossível no meu trabalho atual. Por isso, tive a brilhante ideia de migrar profissionalmente para uma área menos intelectual e mais operacional.
Na minha cabeça, a equação é bem simples: eu penso menos durante o trabalho e me sobra mais volume intelectual para escrever, compor e trabalhar nos meus projetos que exigem do intelecto. Até fiz uma entrevista de emprego por estes dias. A vaga era para operador de calandra sublimática, aquela máquina grande de estampar camisetas. Eu tenho experiência com confecção e entendo bem o processo. Ao ver essa vaga dando sopa, achei que poderia encarar. Mas desconfio que a recrutadora da empresa não entendeu muito bem meus anseios.
Eu deixei muito claro o meu desejo pela área operacional. A mulher me disse que era o lugar certo, pois eu só precisaria acompanhar as demandas e operar a máquina. Nas palavras dela, “não tem muito o que pensar”. Exatamente o que eu busco. Meu erro é que talvez eu tenha me explicado demais. “Quero algo mais tangente, materialidade, menos informação para ser absorvida no dia a dia”, disse a ela. Imagine que para isso tive que reformular todo meu currículo, que não é lá grande coisa não, mas que faz um certo sucesso em agências de publicidade de pequeno porte por aí.
Removi a experiência com criação de conteúdo, marketing, redação, reportagem e priorizei minha vida profissional pré-jornalismo, quando eu vagava por cargos aleatórios de produção e não me atrevia a escrever. Há muito tempo que eu não participava de um processo seletivo como esse. Saí de lá sem nenhuma garantia e deixei a empresa com a sensação de estar regredindo profissionalmente.
Logo me consolei, se tudo der errado, continuo sendo jornalista.
Comments