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Questão de opinião e uma vírgula para Belchior

Questão de opinião e uma vírgula para Belchior

Questão de opinião e uma vírgula para Belchior


Admiro quem cria conteúdo cuja temática é a sua própria opinião sobre algum assunto. Por exemplo: “O que achei do…”. “Minha opinião sobre…”. É o tipo de autoconfiança que gostaria de ter. Será que estes criadores já chegaram a tamanho nível de segurança que se quer perguntam o porquê do mundo precisar da sua opinião? A mim soa bem pretensioso. 


Belchior cantava que preferia a voz ativa à mente positiva. Desafinadamente, faço coro com ele. E bem sei que ninguém precisa de uma opinião minha, mero cronista das coisas do porão. Mas lá vai uma interpretação um tanto quanto alucinada sobre um trecho de suas letras.


Em “Conheço meu lugar”, canção de 1978, Belchior canta: Pois sou uma pessoa. Esta é minha canoa. Eu nela embarco. Eu sou pessoa. A palavra pessoa hoje não soa bem. Pouco me importa.”


Alguns colocam este termo “pessoa” como um contraponto ao sistema social da época, ao individualismo ou até mesmo à banalidade das relações humanas com origem no desrespeito à pessoa. Particularmente, aceito essas considerações, mas  gosto de imaginar uma vírgula no meio destes versos para gerar uma outra conotação. 


Sabe-se que Belchior era um leitor assíduo de Fernando Pessoa. Ele relata em “Fotografia 3x4”, canção de 1976, que “Eu me lembro muito bem do dia em que eu cheguei. Jovem que desce do norte pra cidade grande. Os pés cansados e feridos de andar légua tirana. E lágrimas nos olhos de ler o Pessoa. E de ver o verde da cana”.


Por isso não posso crer que em “Conheço meu lugar”, alguma destas pessoas não possa ser Pessoa. E mesmo que na letra original não exista uma pessoa com P maiúsculo, faço a minha aposta, pois considero o que poderia ser.


Poderíamos trocar “A palavra pessoa hoje não soa bem” por “A palavra, Pessoa, hoje não soa bem.” Com isso, o autor removeria  a pessoa do centro para trazer a palavra à luz. O que seria uma crítica muito poderosa. O poeta português tão afeito à palavra, ficaria decepcionado caso soubesse que a matéria-prima de seu trabalho teria perdido tanta relevância com o evoluir da humanidade. Belchior atualizaria o gajo, informando que a palavra e tudo o que ela implica teria perdido seu prestígio na sociedade. 


Mas essa é só a minha interpretação. 


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Jordino I Blog de Crônicas e reflexões
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