Se eu encontrasse um gênio da lâmpada, provavelmente, eu teria três desejos, pois assim reza a Constituição Internacional dos Gênios lamparinos. Certo disso, meu primeiro pedido seria: “dê-me imaginação”.
Alcançada essa graça, me sobraria criatividade para os próximos pedidos, dos quais não faço ideia do que poderia ser. Alguém que tem na escrita seu ganha-pão não pode se privar de imaginar. E é por isso que assim, logo de cara, intimaria o gênio a transformar minha mente.
Pode parecer uma questão de sobrevivência, e confesso que é sim. Aquele sujeito lá, o algoritmo, formata o pensamento das pessoas de modo que furar a bolha ou pensar fora da caixa está mais trabalhoso. Isso quer dizer que só tendo consciência dessa realidade, por muita força de vontade, dá para buscar algo novo. E o universo das coisas é muito grande. Porém, me parece que quanto mais ele se expande, menor o seu acesso.
Sendo assim, a criatividade começa a tomar certos padrões, o repertório fica imitado e a imaginação esbarra em contextos semelhantes e nada inovadores. Existe alguma teoria que explique isso? Vejamos;
Vigotski, um grande pensador russo sobre o desenvolvimento humano, entendia que as experiências da realidade são determinantes para alcançar a criatividade. Em um artigo muito interessante, chamado ‘O Conceito de Imaginação em Vigotski', dos autores Letícia Maria Montoya, Letícia Busquim e Thais De Sá Gomes, o pensamento do russo é apresentado como:
Para Vigotski, imaginação é uma função psíquica superior que se desenvolve por meio das atividades desempenhadas pelos sujeitos. Então, quanto mais ricas e significativas forem as experiências do sujeito, maior será o desenvolvimento de sua imaginação e capacidade criadora. Portanto, torna-se imprescindível a presença de elementos reais e vivências cotidianas para imaginar e criar. Sendo assim, a realidade torna-se o substrato essencial para a imaginação e criação.
Ora, isso explica muita coisa, obrigado Vig. Considerando isto, é possível identificar que a segmentação que nos é oferecida pelas telas, nos afastam do nosso real poder criativo. Voltando a história do gênio, me parece que ele teria um pouco de trabalho para realizar meu primeiro pedido, apesar de que não precisaria usar mágica para isso.
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