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Por que mais do que nunca vale a pena ler "Triste Fim de Policarpo Quaresma", de Lima Barreto

Atualizado: 16 de out.

Em tempos de incertezas e transformações, a literatura continua a ser uma bússola confiável para compreendermos o mundo ao nosso redor. Entre as obras que permanecem relevantes e instigantes, destaca-se "Triste Fim de Policarpo Quaresma", do renomado autor brasileiro Lima Barreto. Publicado em 1915, esse romance ainda ressoa com vigor em nossos dias, oferecendo uma perspectiva crítica e atemporal sobre a sociedade e suas complexidades. Triste Fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto.


Em primeiro lugar, a atualidade da obra se evidencia na sua abordagem dos dilemas políticos e sociais. Ambientado no Rio de Janeiro do início do século XX, o livro narra a história de Policarpo Quaresma, um nacionalista fervoroso que, cheio de ideais patrióticos, busca incansavelmente promover mudanças positivas em sua pátria. Sua jornada revela as contradições e injustiças de uma sociedade marcada pela burocracia, corrupção e desigualdade, questões que continuam a ecoar em nossa realidade contemporânea.


Além disso, a obra de Lima Barreto oferece uma análise perspicaz das relações de poder e das estruturas de dominação presentes na sociedade brasileira. A trajetória de Policarpo Quaresma ilustra como indivíduos bem-intencionados muitas vezes são marginalizados e ridicularizados quando desafiam as normas estabelecidas e questionam as injustiças estruturais. Nesse sentido, o romance lança luz sobre as lutas por justiça, igualdade e dignidade, temas que continuam a ressoar nos debates contemporâneos.


"Triste Fim de Policarpo Quaresma" oferece uma reflexão profunda sobre a identidade nacional e os mitos que a permeiam. Por meio das experiências do protagonista, o autor questiona as idealizações e estereótipos que cercam a construção da identidade brasileira, nos convidando a refletir sobre as múltiplas facetas de uma nação complexa e diversificada.


Vale ressaltar que a prosa acessível e envolvente de Lima Barreto torna sua obra acessível a leitores de todas as idades e formações. Seja pela sua relevância histórica, sua análise perspicaz da sociedade brasileira ou sua capacidade de despertar reflexões profundas sobre questões universais, " Triste Fim de Policarpo Quaresma" continua a ser uma leitura fundamental para todos que buscam compreender melhor o mundo ao seu redor e refletir sobre os desafios e possibilidades de nossa sociedade.


Sobre Policarpo Quaresma


Na vasta galeria de personagens da literatura brasileira, poucos são tão emblemáticos e complexos quanto Policarpo Quaresma, protagonista deste clássico de Lima Barreto. Este personagem singular, cheio de fervor patriótico e ideais nobres, encarna as contradições e desafios de uma nação em constante transformação.


Policarpo Quaresma é retratado como um homem íntegro, idealista e profundamente nacionalista. Sua devoção à pátria é evidenciada por sua paixão pela cultura e pela história do Brasil, bem como por sua crença fervorosa na capacidade do país de alcançar grandeza e progresso. No entanto, é justamente essa devoção que o coloca em rota de colisão com uma sociedade marcada pela corrupção, pela burocracia e pela indiferença.


O personagem de Quaresma é também um exemplo vívido da luta contra a marginalização e a incompreensão. Sua visão de mundo, marcada pela honestidade e pelo desejo genuíno de promover mudanças positivas, é frequentemente ridicularizada e desvalorizada pelos seus contemporâneos, que o consideram um lunático excêntrico e ingênuo. No entanto, é justamente essa aparente loucura que revela a lucidez e a coragem de Quaresma em desafiar as convenções sociais e questionar os valores estabelecidos.


Policarpo Quaresma é um símbolo da busca pela identidade nacional e da valorização das raízes culturais brasileiras. Sua defesa apaixonada da língua tupi-guarani e sua tentativa de promover a valorização da cultura nacional são reflexos de uma preocupação genuína com a preservação da identidade e da diversidade do Brasil. No entanto, sua tentativa de impor suas ideias revela também sua ingenuidade e sua falta de compreensão das complexidades e contradições da sociedade brasileira.


Trata-se de um personagem profundamente humano, cujas virtudes e falhas o tornam incrivelmente real e relevante até os dias de hoje. Sua trajetória, marcada pela luta contra a injustiça e pela busca incansável por um ideal de justiça e progresso, ressoa com vigor em uma sociedade marcada por desigualdades e desafios. Ao revisitar as páginas de "Triste Fim de Policarpo Quaresma", somos convidados a refletir sobre a história do Brasil e conhecer sobre os valores e ideais que nos unem como seres humanos em busca de um mundo melhor.



Nesta obra-prima de Lima Barreto, o Estado surge como uma figura onipresente e paradoxal, exercendo influência sobre a vida dos cidadãos, muitas vezes de maneira opressora. Através da história de Policarpo Quaresma, somos confrontados com as complexidades e contradições da engenharia estatal, cujo poder se manifesta tanto como instrumento de progresso quanto como obstáculo para a realização dos ideais do indivíduo.


Desde o início da narrativa, fica claro que Policarpo Quaresma é um homem profundamente comprometido com a causa pública e com o bem-estar da nação brasileira. Seu fervor patriótico o leva a idealizar o Estado como o agente supremo capaz de promover as reformas necessárias para o desenvolvimento do país. Mas essa confiança cega nas instituições estatais é gradualmente abalada conforme ele se depara com uma burocracia intransponível, a corrupção desenfreada e a ineficiência governamental.


A relação de Quaresma com o Estado é marcada por uma série de decepções e desilusões, que culminam em sua trágica queda. Sua tentativa de implementar mudanças através da valorização da cultura nacional e da língua tupi-guarani é recebida com desdém e o leva à alienação e ao isolamento. Seu esforço para denunciar a corrupção no exército é ignorado e ele próprio é vítima da opressão do Estado, sendo preso e condenado à morte por traição.


"Triste Fim de Policarpo Quaresma" oferece uma crítica contundente ao papel do Estado na sociedade brasileira, revelando suas falhas e contradições. Por um lado, o Estado é retratado como uma força coercitiva que reprime qualquer forma de dissidência e impede o progresso através de sua burocracia opressora e de sua corrupção endêmica. Por outro lado, o Estado é também representado como uma instituição necessária para o funcionamento da sociedade, capaz de promover o bem comum e proteger os direitos dos cidadãos.


O livro convida o leitor a refletir sobre o papel do Estado na vida dos indivíduos e sobre os limites do poder governamental. Ao mesmo tempo em que denuncia os abusos e as injustiças perpetradas pelo Estado, a obra também reconhece a importância de uma estrutura governamental eficaz e responsável para o funcionamento social. A história de Policarpo Quaresma revela as consequências da corrupção e da ineficiência estatal, bem como um apelo à vigilância e à responsabilidade cívica por parte dos cidadãos.


O autor, Lima Barreto


Afonso Henriques de Lima Barreto, foi um dos mais importantes escritores brasileiros do século XX. Nascido em 13 de maio de 1881, no Rio de Janeiro, e falecido precocemente aos 41 anos, em 1922, Barreto deixou um legado literário marcado por sua crítica social contundente, sua perspicácia satírica e sua sensibilidade para retratar as injustiças e contradições da sociedade brasileira de sua época.


Triste Fim de Policarpo Quaresma Lima Barreto
Lima Barreto deixou um legado literário marcado por sua crítica social contundente. Reprodução

Filho de pais negros, Lima Barreto enfrentou desde cedo as barreiras do preconceito racial e social, experiências que influenciariam profundamente sua obra literária. Formado em Direito, exerceu a profissão de jornalista ao longo de sua vida, escrevendo para diversos periódicos e utilizando a imprensa como meio de expressão de suas ideias e convicções.


Lima Barreto é conhecido por sua capacidade de retratar de forma realista e visceral as complexidades da vida urbana no Rio de Janeiro do início do século XX. Seus personagens são frequentemente figuras marginais, outsiders da sociedade, cujas experiências são rondadas pela exclusão, pela injustiça e pela alienação. Sua prosa é marcada por um estilo direto e despojado, que evidencia sua preocupação em dar voz aos excluídos e em denunciar as desigualdades sociais.


Além de “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, entre suas obras mais conhecidas estão "Triste Fim de Policarpo Quaresma", "Clara dos Anjos" e "Memórias do Escrivão Isaías Caminha".


Apesar de ter sido pouco reconhecido em vida, Lima Barreto é hoje reverenciado como um dos grandes mestres da literatura brasileira, cuja obra continua a inspirar e a provocar reflexões sobre as questões sociais e políticas do Brasil contemporâneo. Sua escrita crítica e visionária permanece relevante e atual, mostrando-nos que as injustiças e contradições denunciadas por ele ainda ecoam em nossa sociedade, convidando-nos a refletir e a agir para promover uma sociedade mais justa e igualitária.


Triste Fim de Policarpo Quaresma Lima Barreto

Policarpo Quaresma ama o Brasil. Ama porque é a terra mais fértil do mundo, porque tem a fauna e a flora mais lindas e exuberantes, porque é a cultura mais rica, a melhor comida, em variedade e sabores, porque possui as mulheres mais belas e, segundo ele, até mesmo... os melhores governantes. Funcionário público, fluente em tupi, estudioso da cultura indígena e grande apreciador das modinhas de violão ― para ele, o único estilo de música verdadeiramente nacional ―, Policarpo, como Dom Quixote de La Mancha, enfrenta moinhos de vento para provar a todos o seu ponto de vista, bradar ao mundo o amor por sua musa, não a Srta. Dulcineia de Toboso, mas a mui amada pátria brasileira. Mas, afinal, que fim poderia ter a aventura de Policarpo? Repleto de personagens fortes e carismáticos, o romance de Lima Barreto é, ao mesmo tempo, um ensaio sobre o idealismo, uma crítica profunda, mas permeada de comicidade, da realidade brasileira do fim do século XIX e início do XX e um retrato das mudanças pelas quais o Brasil passava naquele momento, como o despertar do feminismo. Lindo, inteligente, comovente! Um clássico da literatura nacional.


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