Uma lenda da Grécia antiga conta a história de dois amigos, Damon e Pítias. Estes nomes se tornaram símbolo da verdadeira amizade, pois foram postos a uma prova de vida ou morte, literalmente. Conta-se que um tirano condenara Pítias à morte, no entanto, lhe concedera que antes fosse para a casa resolver algumas pendências pessoais. Para garantir que o homem retornaria para ser morto, seu algoz tomou como refém Damon, o amigo do condenado, que concordou numa boa. Pítias fez o que tinha que fazer e retornou, salvando a vida do amigo no último minuto que lhe restara. Essa mostra de lealdade compadeceu o tirano e ambos foram recompensados com o perdão. Não houve morte.
Essa antiga lenda grega tem me feito pensar na qualidade de amizade em nosso tempo. A régua está alta, o padrão Damon/Pítias é quase inatingível neste mundo onde os próprios interesses determinam as relações. A companhia de si mesmo tem sido pregada como a mais importante dentre todas as possíveis. Já a própria vontade, a senhora suprema que não pode esperar para ser atendida. Por esse motivo, caminha-se cada vez mais só.
As pessoas sofrem de séria carência, mas são influenciadas a buscar respostas na autossuficiência, tanto que agora se dá outro nome para a solidão, um menos doloroso, inclusive mais agradável sonoramente. Solitude.
O resultado deste fechamento em si mesmo tem provocado efeitos significativos e alarmantes, tanto que o The Lancet, um dos periódicos científicos mais respeitados do mundo, anunciou neste ano a criação de um comitê para estudar a solidão e o isolamento social. A solidão se mostra cada vez mais como uma ameaça para a saúde do corpo e da mente. Assim dizem os autores: “Conexões sociais empobrecidas são associadas a um risco aumentado de doenças cardiovasculares, hipertensão, diabete, infecções, declínio cognitivo, depressão e ansiedade”.
Que nos parece? Seja para superar os pequenos trancos do cotidiano ou as grandes demandas da vida, a amizade é indispensável. O quão feliz é aquele que tem um Damon ou um Pítias em sua vida.
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