
A crônica é aquela conversa gostosa que te pega pelo braço e te convida para olhar o mundo com calma e até mesmo mais reflexiva. Se você já leu algo que te fez pensar: 'isso poderia ter acontecido comigo', talvez fosse uma crônica. Suponho que se você está aqui é porque se interessa por crônica ou tem alguma lição de casa para fazer. Certo? Então, o que é crônica? Respondendo de maneira muito simples: trata-se de um gênero textual. Ok, mas o que isso significa?
Um gênero textual
Na literatura existem muitas formas de texto, por isso eles são classificados por sua estrutura, temática e, podemos dizer, semelhanças formais. A essa classificação chamamos de gêneros literários. São eles:
Gênero lírico: São os textos poéticos.
Gênero narrativo: São os textos que contam uma história, com personagens, tempo e espaço.
Gênero dramático: São os textos teatrais para serem encenados.
Mas não para por aí, pois os gêneros literários podem ser categorizados, isso quer dizer que um gênero pode ser subdividido. Vamos focar no que interessa para nós neste momento: o gênero narrativo. Desmembrando essa categoria, encontramos o romance, a novela, o conto e a nossa CRÔNICA.
Características da Crônica
Dentre as três subcategorias já citadas, a crônica é a que possui o texto mais curto, escrito em prosa, isto é, escrita em parágrafos. Ela é muito explorada em meios de comunicação como jornais e revistas.
Elas possuem:
Narrativa curta
Linguagem simples e coloquial
Podem apresentar personagens
Ambiente reduzido
Explora o cotidiano
É importante notar a origem da palavra crônica, do latim chronica, que significa o registro de eventos históricos na ordem que aconteciam. Já no grego, temos khronos, que quer dizer tempo. Por isso as produções deste gênero estão ligadas estreitamente ao momento em que são concebidas.
Tipos de crônicas: sempre tem uma que combina com você
De maneira geral, temos a crônica descritiva e a dissertativa. Nos formatos tradicionais encontramos também:
Crônica jornalística: Na atualidade é a mais comum, produzida para os meios de comunicação, tendo como matéria-prima temas factuais que se tornam reflexões.
Crônica histórica: Tem características narrativas, que inclui personagens, tempo e espaço definidos.
Crônica humorística: Tem sua fundamentação no humor e na ironia para entreter o leitor e criticar aspectos da sociedade, política, economia, cultura entre outras situações.
Mestres que deram vida à crônica
No artigo de André de Freitas Simões, “A EVOLUÇÃO DA CRÔNICA COMO GÊNERO NACIONAL”, o autor destaca que “As décadas de 50 e 60 do século XX foram o auge para a crônica nacional. Revistas e jornais da época tinham sempre seu cronista, com algumas publicações tendo uma verdadeira equipe de jornalistas dedicados ao gênero.” E ainda “Neste período combina a época mais produtiva dos escritores já experientes - Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Raquel de Queiroz - com surgimento de novos valores que incrementaram ainda mais o gênero.”
Por que escrevo e me dedico à crônica? A melhor forma de explicar, adivinhe só, é com uma crônica:
Esses dias li uma entrevista do Mário Prata à Folha de São Paulo. Entre tantas coisas, o escritor falou a respeito da crônica no Brasil, um gênero literário que, segundo ele, tem perdido a atenção do público. Prata viveu a era de romântica da imprensa brasileira, compartilhando a redação com nomes importantes do jornalismo nacional. O que se fabrica hoje nos grandes jornais parece despertar-lhe a mais pura nostalgia.
Como era de se esperar, o escritor evoca os mestres do passado. Fernando Sabino, Stanislaw Ponte Preta, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos e Millôr Fernandes. Simplesmente os maiores cronistas deste país. Citando dois ou três autores que, na sua opinião, realmente escrevem crônicas atualmente, ele afirmou que o gênero tem sido confundido com artigo e anda agonizando.
O entrevistado não explora o motivo do desinteresse na crônica. Tampouco eu tenho alguma teoria. O que sei é que este gênero, que caminha entre a literatura e o jornalismo, é um encontro com o cotidiano, com os golpes do dia a dia e, consequentemente, conosco mesmo em nossa mais pura essência existencial.
Com bom-humor e vivacidade, a crônica toca o detalhe, o que escorre pelas beiradas do acontecimento, aquilo que pode ser facilmente ignorado como apenas mais dia, uma ida ou volta do trabalho, um subir ou descer das escadas, um bom dia ou boa tarde na praça central, uma tarefa ou relatório pedido pelo chefe, um almoço com a família ou encontro com os amigos.
Não sei se posso me lamentar, mas vejo com pena a preferência por outras leituras, quando a crônica é quem melhor nos compreende. Diante do Mário Prata, com seus 77 anos e repleto de experiência, sou um pardalzinho no ninho, mas acredito que compreendo sua insaciedade em relação a este gênero que tanto apreciamos.
Não se deseja vida por quem agoniza, mas os votos de uma boa morte. Prata nos apresentou o quadro clínico da crônica, estamos perto da hora de deixar o nosso “descanse em paz”?
Faça-se saber, quando a crônica expirar, morrerá também um pouco de nós.
Referências:
Artigo citado no texto: https://www.uel.br/pos/letras/EL/vagao/EL4Art5.pdf
Entrevista do Mário Prata à Folha de São Paulo: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2023/11/a-cronica-esta-agonizando-e-e-confundida-com-artigo-afirma-o-escritor-mario-prata.shtml
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