A literatura de cordel é uma expressão cultural rica e vibrante do Brasil, conhecida por suas histórias rimadas impressas em folhetos e ilustradas com xilogravuras. Originária do Nordeste brasileiro, esta forma de arte popular tem raízes profundas que remontam às tradições orais e escritas da Península Ibérica, particularmente de Portugal e Espanha. Neste artigo, exploramos a história, características e a importância cultural da literatura de cordel.
Origens Históricas
A literatura de cordel no Brasil foi fortemente influenciada pelas tradições literárias populares da Europa, especialmente as "romances de cego" e as "pliegos de cordel" da Península Ibérica. Esses folhetos narrativos eram vendidos pendurados em cordas ou varais, daí o nome "cordel". Com a colonização portuguesa, essa tradição foi trazida para o Brasil, onde se adaptou e floresceu nas condições culturais e sociais do Nordeste.
Características da Literatura de Cordel
Os folhetos de cordel são conhecidos por várias características marcantes:
Formato: Normalmente, os folhetos de cordel são pequenos, contendo de 8 a 32 páginas, impressos em papel simples e vendidos a preços acessíveis. A acessibilidade é um aspecto central, permitindo que as histórias alcancem uma ampla audiência.
Versificação: A poesia de cordel é escrita em verso, utilizando métricas tradicionais como a sextilha (estrofes de seis versos) e a décima (estrofes de dez versos). A rima é um elemento crucial, com esquemas que variam conforme o estilo do autor.
Temas: Os temas são diversos, abrangendo desde histórias de amor e aventura até sátiras políticas e religiosas, passando por lendas e acontecimentos históricos. A capacidade de capturar e refletir a vida cotidiana e as preocupações do povo é uma das forças motrizes da popularidade do cordel.
Ilustrações: As capas dos folhetos são tradicionalmente adornadas com xilogravuras, que são ilustrações gravadas em madeira. Essas imagens são tão importantes quanto o texto, ajudando a atrair leitores e a comunicar a essência da história.
Importância Cultural
A literatura de cordel tem um papel importantíssimo na preservação e divulgação da cultura nordestina. Ela serve como um meio de educação informal, entretenimento e crítica social. Muitos cordelistas (autores de cordel) são respeitados como cronistas do cotidiano, capazes de capturar a voz do povo e refletir as realidades sociais e políticas de sua época.
Além disso, o cordel tem uma função educativa, ensinando sobre história, moral e valores culturais através de narrativas acessíveis. Durante o século XX, a literatura de cordel contribuiu para a alfabetização de muitas pessoas em áreas rurais, onde os recursos educativos eram escassos.
O Cordel atualmente
Nos últimos anos, a literatura de cordel tem passado por um renascimento, sendo redescoberta e valorizada tanto no Brasil quanto no exterior. Festivais, feiras de livros e eventos culturais têm ajudado a promover essa arte, trazendo novos autores e leitores para a tradição. A digitalização e a internet também têm desempenhado um papel importante, permitindo que o cordel alcance um público global.
A literatura de cordel é um testemunho vibrante da capacidade humana de contar histórias e de preservar a cultura através da palavra escrita e ilustrada. Com raízes que se estendem até a Europa medieval e florescem no solo fértil do Nordeste brasileiro, o cordel continua a ser uma forma de arte dinâmica e relevante. Sua importância transcende o mero entretenimento, servindo como um espelho da sociedade e uma ferramenta de educação e valorização cultural.
5 Obras para começar a gostar de Cordel
A literatura de cordel oferece um mergulho fascinante na cultura e na história do Nordeste brasileiro. Para aqueles que desejam explorar essa forma de arte popular, aqui estão cinco obras essenciais, acompanhadas de alguns versos exemplares:
1. "A Chegada de Lampião no Inferno" - José Pacheco
Esta obra clássica narra a chegada fictícia do cangaceiro Lampião ao inferno. Com humor e crítica social, o folheto satiriza as condições sociais e políticas do Nordeste.
Um cabra de lampeão
por nome Pilão Deitado
que morreu numa trincheira
em certo tempo passado
agora pelo sertão
anda correndo visão
fazendo malassombrado
2. "Pavão Misterioso" - José Camelo de Melo Resende
Esta narrativa conta a história de amor entre Evangelista e Creusa. Evangelista constrói uma máquina voadora em forma de pavão para resgatar sua amada.
Eu vou contar uma história
De um pavão misterioso
Que levantou voo na Grécia
Com um rapaz corajoso
Raptando uma condessa
Filha de um conde orgulhoso
3. "A História de Juvenal e o Dragão" - Leandro Gomes de Barros
Considerado o pioneiro da literatura de cordel no Brasil, Leandro Gomes de Barros conta a história de Juvenal, um jovem que enfrenta um dragão para salvar um reino.
Quem ler esta história toda
do jeito que foi passada
verá que o falso é vil
nunca nos serviu de nada
a honra e a fidelidade
sempre foi recompensada
4. "Triste Partida" - Patativa do Assaré
Patativa do Assaré descreve a migração forçada dos nordestinos para o Sudeste, capturando a dor e a esperança desses migrantes.
Setembro passou, outubro e novembro,
Já estamos em dezembro, meu Deus, que é de nós?
Assim fala o pobre do seco nordeste,
Com medo da peste, da fome feroz.
5. "Peleja do Cego Aderaldo com Zé Pretinho dos Tucuns" - Firmino Teixeira do Amaral
Nesta peleja, os protagonistas se enfrentam em uma batalha de inteligência e sagacidade, proporcionando momentos de humor, astúcia e reflexão sobre a vida no sertão.
Apreciem, meus leitores
Uma forte discussão,
Que tive com Zé Pretinho,
Um cantador do sertão,
O qual, no tanger do verso,
Vencia qualquer questão
Explorando a Literatura de Cordel
Estas cinco obras proporcionam um excelente ponto de partida para qualquer pessoa interessada em mergulhar na literatura de cordel. Os versos exemplares destacam a riqueza cultural e a capacidade do cordel de capturar a imaginação e a realidade do povo nordestino. Seja através de lendas, histórias de amor, aventuras fantásticas ou relatos históricos, a literatura de cordel continua a encantar e educar leitores de todas as idades.
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