A cientista brasileira Adriana Ferreira da Silva, natural de Londrina, no Paraná, é uma das vencedoras do projeto "25 Mulheres na Ciência Américas", promovido pela 3M. O programa pretende destacar e promover mulheres que se dedicam às áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM) na América Latina e no Canadá, com foco especial em projetos relacionados à sustentabilidade ambiental.
Quando ainda brincava pelas ruas da Vila Casoni, bairro em que viveu sua infância, na cidade de Londrina, a pequena Adriana não tinha ideia de que sua paixão pela ciência a levaria tão longe. Entusiasmada pela natureza e fascinada por novas descobertas, desde cedo promovia experiências caseiras com tudo o que encontrava pela sua casa, desde a mistura de produtos de limpeza até aventuras na cozinha de sua mãe.
Com um perfil tão inquieto e explorador, a escolha por um curso universitário na área da ciência foi um caminho natural. Optou pela zootecnia e mudou-se para Maringá, cidade vizinha, para estudar na UEM. Com a firmeza de quem sabe o que quer, logo no primeiro dia de aula, procurou pelo seu professor de piscicultura e revelou a ele o seu desejo de seguir neste campo. Não parou mais. Deu início a sua jornada na aquicultura, fez seu mestrado na Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e se apaixonou por crustáceos, dedicando suas pesquisas ao camarão.
“O Paraná é o maior produtor de tilápia do Brasil, e na região de Londrina estão os maiores produtores, eu cresci neste ambiente, antes de entrar na universidade eu já tinha uma certa experiência, vivendo a aquicultura de uma maneira mais próxima, que me causava muito interesse”, relembra Adriana.
Foi no período do mestrado que, pela primeira vez, teve contato com a tecnologia que hoje a colocou entre as 25 mulheres da Ciência na América Latina e no Canadá e uma das 7 brasileiras também escolhidas. A tecnologia em questão é o biofloco. Por meio de colegas e professores, chegou ao México onde fez um estágio por dois meses e, logo após, iniciou seu doutorado na Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM).
Residindo no país dos Mariachis desde então, ela não se acomodou. Abriu empresas, tornou-se professora universitária e passou a criar conteúdo para compartilhar nas plataformas digitais. Nas redes, ela mostra o seu dia a dia de trabalho e promove palestras, lives e conferências tendo sempre como tema a aquicultura. Ao longo de sua carreira, também tem se dedicado a reforçar o protagonismo feminino na ciência e no empreendedorismo, fortalecendo e incentivando meninas e mulheres a seguirem seus objetivos nestas áreas.
“Sempre estudei muito e fiz vários estágios. Tive ótimos professores e colegas de campo, foi através desses contatos que comecei a aprender sobre a tecnologia de bioflocos com os pioneiros no Brasil. Quando cheguei no México, continuei minhas pesquisas e me aprofundei ainda mais no tema. O que consegui hoje é o resultado das inúmeras oportunidades que fui abraçando ao longo do caminho, tanto na área acadêmica como empresarial, e tudo isso desejo passar adiante”, avalia.
Além de sua atuação como pesquisadora, também é empreendedora e fundadora da Acuícola Garza, uma fazenda produtora e comercializadora de peixes e camarões que utiliza a tecnologia de bioflocos em todo o ciclo de produção. Adriana destaca a importância desta prática na aquicultura, especialmente em regiões como o México, onde os recursos naturais podem ser limitados. Sua empresa é uma referência no uso dessa tecnologia, sendo reconhecida como uma fazenda "eco-friendly".
Uma entre as 25
A cientista está entre as vencedoras do projeto "25 Mulheres na Ciência Américas” graças ao seu trabalho de ensino, pesquisa e divulgação da aquicultura sustentável, com ênfase na tecnologia de bioflocos e processamento de pescado, onde visa promover uma produção de organismos aquáticos mais amigável ao meio ambiente. Adriana tem sido uma voz proeminente na pesquisa e prática da aquicultura responsável.
A tecnologia de Bioflocos
A tecnologia de bioflocos é um sistema sustentável usado na aquicultura, onde microrganismos como bactérias são cultivados na água do tanque. Esses microrganismos formam "flocos" que servem como alimento para os peixes, reduzindo a necessidade de alimentação externa. Essa tecnologia ajuda a economizar recursos naturais, como água e alimentos, e é especialmente útil em regiões com escassez de recursos hídricos.“Uma das grandes vantagens do biofloco é a produção usando menos recursos naturais e alimentação comparado a métodos tradicionais. Isso resulta em produtos com maior qualidade, sem falar na economia e menor impacto ambiental”, explica Adriana.
Sobre “25 Mulheres da Ciência Américas”
A iniciativa é da 3M, uma empresa global de ciência, tecnologia e manufatura com presença em diversos mercados, e reconhece cientistas e seus projetos na América Latina e no Canadá. Esta é a quarta edição do evento que teve como foco questões de Sustentabilidade Ambiental, devido à relevância do tópico e à crescente necessidade de fornecer soluções para os problemas que afetam o mundo hoje.
Confira a lista de vencedoras brasileiras e seus projetos:
Adriana Ferreira da Silva / Londrina-PR PROJETO - Ensino, pesquisa e divulgação da aquicultura sustentável, com foco na tecnologia de bioflocos e processamento de pescado. Utiliza a técnica inovadora como ferramenta para promover a produção de organismos aquáticos de forma ambientalmente responsável.
Camila Ferrara / São Paulo – SP PROJETO - Preservando tradições, Conservando vidas: Estratégias sustentáveis para o manejo e consumo de ovos de quelônios da Amazônia. O objetivo é garantir a conservação sustentável das populações de quelônios na Amazônia, promovendo simultaneamente a geração de renda e a melhoria da qualidade de vida das comunidades locais por meio de estratégias integradas.
Gabriela Lujan Brollo / Jundiaí – SP PROJETO - Permitir a coleta segura e análise eficaz de pelotas verdes de minério de ferro na linha do processo industrial de pelotização, aumentando a eficiência do forno de queima das pelotas, reduzindo o consumo de gás combustível e as emissões de gases de efeito estufa (GEE) de um processo altamente emissivo e presente de forma extensiva na indústria, com potencial de escalabilidade promissor do impacto da solução.
Joyce Araújo / Caruaru – PE PROJETO: Desenvolvimento de um método, patenteado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), para fabricação de nanoplacas de grafeno por meio de resíduos de biomassa com a geração de energia alternativa, tais como biogás ou biocombustíveis. Além da produção do grafeno, material revolucionário na indústria dos nanomateriais, devido à sua elevada área superficial, condutividade elétrica, térmica e resistência mecânica, desenvolvimento de projeto com pegada de carbono, devido à captura de dióxido de carbono (CO2) para produção de biogás.
Marcia Foster Mesko / Canguçu – RS PROJETO: Uso de energias alternativas (ultrassom e micro-ondas) para o desenvolvimento de métodos ambientalmente amigáveis para determinação elementar, bem como processamento sustentável de arroz. O objetivo é disponibilizar métodos mais rápidos, exatos e precisos, com menor uso de reagentes tóxicos e redução da geração de resíduos, preconizando os princípios da química verde, visando a determinação elementar em diversas amostras, além de obter um alimento com melhor valor nutricional, e reduzir os impactos ambientais causados na etapa de processamento.
Marcia Kafensztok / Rio de Janeiro – RJ PROJETO: A PRIMAR Aquacultura é a primeira fazenda de aquacultura orgânica certificada do Brasil (2003), com 31 anos de existência e cultivos de camarões, ostras, sementes de ostras e vocação para pesquisas, que são a base para criação do Instituto. O objetivo é buscar novas fontes de proteínas para alimentação humana, pesquisando organismos aquáticos estuarinos, mapeando seu processo reprodutivo, para depois reproduzi-lo em ambiente controlado e posteriormente cultivá-los em escala comercial, por meio da aquacultura orgânica e sustentável.
Rosana Goldbeck / Mondaí – SC PROJETO: Processo integrado para produção de pectina, xilo-oligossacarídeos e energia a partir do aproveitamento sustentável de cascas de laranjas. O processo visa o desenvolvimento da economia circular por meio do aproveitamento integral e agregação de valor aos resíduos agroindustriais.
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