
O ano era 2018, estávamos no primeiro semestre. Foi nessa época que recebi um convite especial: apadrinhar um casal de amigos. Uma grande novidade para mim, que até então não tinha tido tal experiência.
Claro, isso me fez questionar qual seria a tarefa de um padrinho, no rito do matrimônio e no decorrer da vida conjugal daquela família que estava se formando. Aos poucos fui entendendo meu papel. Primeiro, eu teria que providenciar um bom presente, os padrinhos não podem dar ninharias para os seus afilhados. Segundo, minha digníssima e eu teríamos uma entrada especial na cerimônia. Terceiro, era preciso se vestir a altura. Este quesito me preocupou.
Eu nunca fui de andar na grife, no máximo tenho umas roupas para ir à missa no domingo. De resto, prefiro conforto a estilo. Mas vocês sabem que é da necessidade que nascem os negócios. Eu precisava de um traje social e comprar um não estava nos meus planos, melhor seria alugar. Vestir, usufruir, sentir-se lindo, tirar algumas fotos e devolvê-lo.
Aproveitei bastante da minha condição de padrinho, a entrada especial, as fotos, o champagne com os noivos. Depois da festa já muito adiantada, foi me ocorrendo um sentimento de despedida. Quando cheguei em casa, compreendi melhor do que se tratava. Tirei as peças uma por uma. Elas voltaram para o saco plástico e seriam entregues para loja na segunda-feira seguinte. Enquanto isso, eu pensava o quanto a festa tinha sido boa e que eu poderia viver aquilo mais vezes. Então percebi, o que para mim era um anseio, para aquele traje de aluguel era uma rotina.
Não parece, mas 2018 já está bem distante de nós. Desde então, o Brasil perdeu duas copas do mundo, ocorreram duas eleições presidenciais, houve uma pandemia, a Rússia invadiu a Ucrânia, já fui padrinho por mais três vezes e escrevi um livro.
Memórias de um terno de aluguel (Opera Editorial) @operaeditorial é um livro que acompanha o drama de um terno que discorre sobre a sua falta de sorte no tabuleiro da existência.
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