
Crônica: No alto do prédio se vê aquela típica luzinha de todo prédio. Elas ficam ali informando aos aviões a sua altura. Bom, pelo menos eu acho que sirva para isso. E têm também os pára-raios, que servem para parar raios no Pará, no Paraná, na Paraíba, no Paraguai e por aí vai. Nunca vi um raio sendo parado. Não precisa morar em prédio para saber que todos eles são iguais.
“Não sou galinha pra viver empoleirada”, dizia uma senhora que vivia numa casinha entre dois prédios imponentes. Sua morada era uma rara exceção na paisagem, quem olha de longe não a vê, quem passa na rua passa o olho contando: prédio, prédio, prédio, casa, prédio, prédio, prédio… Do seu quintal ela enxerga seus vizinhos a vários metros de altura, consequentemente seus vizinhos a vê de maneira muito inferior, pequenina, regando plantas e tirando frutas do pé.
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Mas quem pensa que a dona da exceção não se dá bem com os moradores dos arranhas céus se engana, não é porque ela bate o pé e nega qualquer proposta de compra por parte de alguma empreiteira que ela trata seus vizinhos com frieza. Ora, problema deles se gostam do poleiro. “Cada qual com suas preferências”, ela diz. Às vezes ela até usa de gentileza com essa gente, arremessando mangas aos seus vizinhos, não para acertá-los é claro, mas como um ato cordial de quem compartilha da sua fartura.
Ela tem tanta pena dessa gente que precisa pegar o elevador, entrar no carro e passar pelo supermercado só para comprar uma fruta. Pena que seus vizinhos ainda não compreenderam e tomam isso como um ato de guerra.
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