Eu já escrevi muitas cartas, sobretudo quando estava distante da minha família, na adolescência. E o que me chama atenção nesta maneira de se comunicar é o quanto precisamos nos entregar em cada palavra para que o conteúdo esteja de acordo com os nossos sentimentos.
E tem mais uma coisa que me fascina nas cartas. Elas são rigorosamente marcadas pelo tempo. Não quero parecer saudosista, mas as inúmeras mensagens de hoje se perdem nos dias, meses e anos. O que não ocorre com as cartas, pois elas são duplamente assinadas. Primeiro pelo seu autor, em seguida, pelo local e data em que fora concebida. Ou seja, as cartas estão cercadas de mística.
A carta desta foto foi encontrada numa edição bem antiga de Caetés, livro de Graciliano Ramos. E, como em todas as outras cartas, lá estava documentado o dia em que todos aqueles pensamentos haviam se materializado no papel. Era 5 de outubro de 1970, em um dia frio Curitibano, portanto, 53 anos. Pesquisei por eventos importantes ocorridos nesta data.
Em 5 de outubro de 1970, enquanto o remetente escrevia a tal carta, o Led Zeppelin lançava seu terceiro álbum, o “Led Zeppelin III”. A canção Immigrant Song estava lá como a primeira faixa.
E você pode estar pensando sobre o que desejo dizer com tudo isso. Não tenho muitas pretensões, não. Escrever é um ato de conexão. Às vezes a escrita nos faz pensar que tudo pode estar relacionado com tudo.
A carta abandonada em um livro, marcada por uma data, num dia há 53 anos, quando uma banda lendária lançava um novo trabalho. E a Immigrant Song, que traduzida literalmente se torna a Canção do Imigrante, também pode ser a do migrante, que migra, mas que escreve para saber dos seus e amenizar a distância na tentativa de conquistar um pouco de paz e confiança, pois, como diz a mesma canção, estas podem ganhar o dia apesar de todas as derrotas.
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