Esses dias revisitei o ano 2000 para responder uma pergunta que vi flutuando em algum feed por aí. “Qual foi o seu primeiro filme no cinema?”. Não sei como acontece com você, no meu caso, sobre essas questões de “primeira vez”, a segunda resposta é sempre a correta. Acho que isso se deve ao meu HD, que já vai lotado depois do download indesejável da COVID-19.
A princípio pensei que minha estreia na telona (como telespectador) teria acontecido entre os 10 e 12 anos. Me enganei. Foi mais cedo, graças à minha escola da infância. Sob a tutela da professora Eliete, lá na segunda série, tomei meu lugar na fila que levava para o ônibus de passeio. Na mochila, ao invés de estojo e cadernos, iam o pão com mortadela e um daqueles refrigerantes “juninhos”, meu combo especial para os passeios escolares (e também o mais barato). Em meio a muita cantoria, tomamos o rumo para o Cine Teatro Padre José Zanelli, em Ibiporã.
Eu arrisco a citar o local, mas confesso que as informações podem ter sofrido distorções no horizonte de minha memória. Em todo caso, foi lá que eu encontrei a maior televisão do mundo. E, o mais impressionante, ela tinha o poder de sossegar crianças sobrenaturalmente inquietas.
Quando na tela piscou o letreiro “Tigrão, o filme”, pairou um silêncio absoluto naquela sala e eu que não fazia ideia de que o ursinho Pooh poderia ser tão grande, fiquei paralisado. Tão paralisado a ponto de esquecer o meu combo na mochila. Meus olhos não se desviavam da onde a magia acontecia. Voltei para casa com a barriga vazia, mas com o coração cheio de novas descobertas. Tão cheio que, mesmo se em uma mesa universitária dissecado fosse, ainda existiriam aventuras inatingíveis às mãos do anatomista.
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