
Já falei em outras oportunidades que a crônica tem o poder de tocar o detalhe, o acontecimento que poderia passar despercebido, aquele mesmo que chega a beirar a irrelevância. Porém, acredito eu que, diante da vida, nada do que acontece a nós pode passar sem deixar um sinal.
Um dia, um amigo meu me disse que havia descoberto um dom: enxergar significado nas coisas. Comentei que jamais tinha escutado sobre esse possível dom. Ele me explicou que poderia atribuir significado a qualquer coisa. Perante a minha incredulidade, ele começou a provar. E foi falando sobre algumas situações de sua vida.
Eu fui além e o desafiei. Ora, se ele tivesse mesmo esse poder, poderia facilmente responder às minhas questões. E comecei:
— Aquela raiz ali, saltando pela calçada, o que significa?
— Nada tem mais força do que a natureza.
Essa foi certeira. Mas continuei:
— Aquele folheto de oferta de algum supermercado jogado ali no meio-fio?
— Nem toda informação serve, há muitas coisas descartáveis.
Ele estava inspirado.
— O bem-te-vi cantando empoleirado na antena?
— Ele mostra que sua comunicação pode ter mais efeito que nossos trambolhos tecnológicos.
— E essa baita rajada de cocô que ele acabou de soltar?
— Está cagando para nossa opinião.
Nada pode passar batido
Bom, e agora, que tal fazermos uma pequena análise sobre este texto?
Essa crônica é um belo exemplo de como podemos encontrar significado até nos menores detalhes do cotidiano, muitas vezes ignorados ou considerados irrelevantes. E isso é uma das tarefas mais legais desse gênero textual.
O diálogo entre meu amigo e eu ilustra de forma leve e humorada a capacidade de atribuir sentido às coisas mais simples, transformando-as em pequenas lições ou ideias sobre a vida.
A raiz que salta pela calçada, por exemplo, pode ser vista como um símbolo da força e persistência da natureza, que insiste em se fazer presente mesmo em meio ao concreto das cidades.
O folheto de supermercado descartado no meio-fio nos lembra da abundância de informações inúteis que nos cercam, muitas das quais são facilmente descartáveis.
Já o bem-te-vi, com seu canto simples, contrasta com a complexidade da tecnologia, sugerindo que a comunicação mais eficaz pode ser aquela que é direta e autêntica.
E, claro, o humor não poderia faltar na cena final, em que o bem-te-vi "caga para nossa opinião".
Essa observação descontraída não só quebra a seriedade do momento, mas também nos faz refletir sobre como, muitas vezes, nos preocupamos excessivamente com o que os outros pensam, enquanto a natureza simplesmente segue seu curso, indiferente às nossas preocupações.
Essa crônica, portanto, nos convida a olhar o mundo com mais atenção e a encontrar beleza e significado até nos detalhes mais insignificantes. Afinal, como eu já disse, nada do que acontece conosco passa sem deixar um sinal. E, talvez, seja justamente nesses pequenos sinais que encontramos as maiores lições.
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Viu como é legal interpretar a vida botando uma lupa em nosso cotidiano? Qual a sua opinião sobre a crônica?
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